O impacto dos universitários no comércio de São Carlos

 

Faz menos de um ano que resido em São Carlos, vim de uma pequena cidade do Sul de Minas Gerais com apenas um Instituto Federal para o ensino superior, concentração de riqueza em torno do café e maior porcentagem dos interesses comerciais em torno da agronomia. E de “paraquedas” cai em São Carlos, que de acordo com o mapa do Sindicato das Entidades de Ensino Superior do Estado de São Paulo, a quantidade de estudantes cursando o ensino superior neste município é maior que as médias estadual e nacional. A região concentra um dos maiores números de universitários do país, com um índice de “apenas” 25,5%. Me surgiu então o seguinte questionamento: para os cidadãos que não possuem nenhum vínculo com o meio universitário, como é a experiência de viver em uma cidade universitária? Decidi abordar o tema  focando em assuntos como, oferta de trabalho, facilidades de transporte, oportunidades de lazer, teatros, cinemas, maiores atrações culturais, centros culturais e oferta de boa moradia.

De acordo com notícia publicada no g1 em março de 2018, no início das aulas das universidades públicas, o município recebeu quase 3 mil novos moradores que fomentam a economia da cidade. Na vila Celina, bairro com grande concentração de estudantes, alguns estabelecimentos dizem não abrir durante o período de férias pois o movimento cai 90% nesse período e somente com a volta dos estudantes o faturamento estabiliza. Outro setor que é beneficiado é o imobiliário, a notícia também trás o corretor Frederico Oehlmeyer que explica que todo mês de fevereiro é forte em negócios para a imobiliária, mas este ano foi melhor ainda devido a um grupo de 60 estudantes paraguaios que vieram para a cidade fazer uma especialização na USP e alugaram  40 imóveis com ele.

Segundo dados da Semesp, o sindicato das universidades particulares, São Carlos está no ranking das cidades com o maior número de concentração de estudantes matriculados ao todo. Dessa forma, é inegável que por serem os principais agentes no movimento gradativo da economia São Carlense, o investimento em transporte, oportunidades de lazer e atrações culturais se deve ao crescimento gradual da cidade em torno da universidades, com o intuito de melhor acolher seus estudantes.

No entanto, ainda não foi citei a força que a cidade tem para trabalhadores informais(uber/99, comerciantes que ficam nas saídas dos restaurantes universitários, food truck, etc), e também para trabalhadores menos elitizados, como por exemplo empregadas domésticas, que veem seu faturamento melhorar durante eventos universitários que ocorrem durante o ano letivo. Logo, não posso deixar de citar a Taça Universitária de São Carlos , também conhecida como a maior e mais polêmica festa universitária do país. A realização da sua 38ª edição injetou R$ 10 milhões na economia da cidade, segundo a organização do evento, que esperou receber 75 mil pessoas em quatro dias de festa e gerar três mil vagas de empregos temporárias entre barmans, seguranças, eletricistas, carregadores, técnicos de estrutura e motoristas de vans, e nas áreas de limpeza, hotelaria e alimentação.

Contudo, para manter a impessoalidade sobre o assunto é necessário dizer que durante esse mesmo período moradores das regiões onde os eventos estavam sendo realizados tiveram que lidar com a dura experiência de amanhecer com corpos de estudantes estirados pelo chão de suas calçadas e ruas desmaiados sob o efeito de drogas, de depredações de patrimônio, e segundo a imprensa local, de estudantes que faziam questão de utilizar o espaço público para realização de ato sexual diante de crianças e idosos.

Em suma, é preciso lembrar à sociedade São Carlense que necessitamos viver em simbiose, na qual a cidade é reconhecida pelas suas universidades e as universidades se adequam a cidade, gerando lucros e movimentando o comércio, afinal de contas, como visto, os universitários são grandes consumidores e sem eles morando e comprando, a cidade não seria metade do que é hoje, ainda mais em tempos de uma prefeitura com governo fraco e falta de projetos estruturantes. Portanto, não adianta os cidadãos  usarem as redes sociais com o intuito de criar um estigma sobre os demais eventos. Criticar festas, sem dúvida, é uma iniciativa sem fins de melhoria, além disso, certamente quem está criticando os eventos ou tem um parente que vai ou tem alguém que de determinada forma está sendo beneficiado pelas festas com compra em seu comércio, no seu hotel ou então com um emprego direto e indireto. O ideal é buscar por alternativas que tenha sinergia entre a polícia e prefeitura municipal de São Carlos com a organização do evento, a fim de garantir eventos mais seguros e controlados, que agradem a todos e possa fomentar o comércio.

Por fim, trouxe um desabafo  de uma cidadã São Carlense, em uma rede social, sobre o período do Tusca em questão, seu nome é Maisa Fonseca e  atualmente trabalha como faxineira.

 

continuação

Escrito por Victória De Martini de Souza, estudante da Universidade Federal de São Carlos, graduanda em Ciência da Computação em projeto individual da Aciepe “Os diferentes olhares para a cidadania, cultura e cidade intermediados pela web”

Referências:

  1. https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/tusca-deve-injetar-r-10-milhoes-na-economia-de-sao-carlos-diz-organizacao.ghtml
  2. https://saocarlosemrede.com.br/a-morte-do-estudante-e-a-tusca/
  3. http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2012/10/quantidade-de-estudantes-em-sao-carlos-e-maior-que-media-nacional.html
  4. https://www.jornalpp.com.br/cidade-sitemap/item/20835-s%C3%A3o-carlos-tem-o-maior-%C3%ADndice-de-estudantes-no-ensino-superior
novembro 22, 2018

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