Flanêur(ismo)

Tumblr

Centro de São Paulo – Tumblr Breves Instantes

O termo ‘flanêur‘ vem do substantivo masculino francês ‘flanêur’ – que basicamente significa ‘andarilho’, ‘ocioso’, ‘passeador’, ‘vadio’ – que vem do verbo francês ‘flanêr‘, que significa ‘passear’.

É engraçado que ainda assim na parte francesa do Canadá, ‘flanêr‘ raramente é utilizado para designar ‘passear’ e normalmente tem uma conotação negativa, geralmente significando ‘vadiagem’. É interessante notar como o mesmo idioma tem diferentes conotações dependendo do local.

Originalmente o termo foi inventado por Charles Baudelaire (1821 – 1867) e se refere a alguém que observa a cidade ou seus arredores, e experimenta um verdadeiro passeio não só fisicamente mas também um pensamento filosófico e uma forma de ver e sentir as coisas.

Caminhar por caminhar, sem pressa para chegar de um lugar ao outro, mas sim para observar e questionar a paisagem urbana, vielas, esquinas escondidas e becos, observando o que há de iminente e também ser observado.

O século XIX viveu uma experiência de grande expansão urbana. Cidades como Londres e Paris cresceram em uma escala sem precedentes e deram origem à novos modelos de vida urbana. O poeta francês Charles Baudelaire escreveu que nas cidades modernas nós nos tornamos um ‘flanêur’ ou um ‘andarilho’. Era um cenário urbano totalmente novo associado à Era da Modernidade. De acordo com o Baudelaire, o ‘flanêur’ anda pelas ruas labirínticas e pelos espaços escondidos da cidade, fazendo ele parte também das atrações e dos seus prazeres assustadores, mas ainda permanecendo, de alguma forma, separado e à parte disto.

Eles não andam para conseguir algo, ou para ir para algum lugar, nem para fazer compras (que é o mais próximo que nós atingimos desse ideal de Baudelaire). ‘Flanêurs’ estão deliberadamente opostos à sociedade capitalista e aos seus dois lemas: estar com pressa e comprar coisas. (Como um protesto a esses lemas, houve em Paris uma moda em que os ‘flanêurs’ andavam lentamente com uma tartaruga na coleira, como se fosse um cachorro). Eles se questionam e imaginam a vida daqueles que passam por eles, construindo narrativas para elas, eles bisbilhotam conversas, eles observam como as pessoas se vestem e quais são os novos produtos e lojas (Não para comprar algo, mas sim para refletir sobre eles como partes importantes da totalidade do que é o ser humano). Os ‘flanêurs’ são ávidos entusiastas do que Baudelaire chama de “o moderno”. Diferente de muitos intelectuais contemporâneos adeptos de Baudelaire, os ‘flanêurs’ não estão apenas interessados na beleza dos objetos clássicos de arte, eles saboreiam o que vai mais além, eles amam a novidade.

É um paradoxo as cidades agruparem muitas pessoas em um pequeno espaço, mas ao mesmo tempo separa-las. Então é o objetivo dos ‘flanêurs’ recuperar esse senso de comunidade, como Baudelaire coloca “estar longe de casa mas em todos os lugares se sentir em casa“.

Baudelaire caracterizou o ‘flanêur’ como um “cavalheiro caminhante das ruas”, ele via o ‘flanêur’ como uma peça fundamental para o entendimento, para a participação e também para a representação da cidade. As mulheres eram deixadas às margens nessa caracterização, devido à partes dúbias como “uma prostituta” nesta filosofia em que o homem era a figura dominante que estava tentando experimentar a modernidade. Na época também havia uma restrição em relação a o que a mulher poderia ser, poderia fazer ou para onde ir, mas esse entusiasmo em relação a modernidade trazia a mudança para esse tipo de pensamento Vitoriano do século XIX.

Pouco antes da 2ª Guerra Mundial, Walter Benjamin (Filósofo alemão judeu – 1892/1940) escreveu que o ‘flanêur’ era o símbolo da modernidade que passeia na vida urbana. O viajante da cidade, se infiltrando nas multidões, percorreu as arcadas (os primeiros shoppings) onde as mercadorias eram arrumadas – reluzentes e novas – atrás da vitrine. O trabalho do ‘flanêur’ era evitar os bens materiais, assim tendo prazer em apenas observar as multidões. Quanto mais o conceito de ‘flanêur’ se torna contemporâneo para nós e as tentações do comércio mais irresistíveis, qualquer um(a) é um(a) turista, até mesmo em casa. O design das cidades dos séculos XX e XXI facilita o ‘passeio’, mas apenas nas áreas consideradas ‘seguras’, para fazer compras. Nas áreas que não são turísticas, fora do centro, as calçadas destruídas, os obstáculos das linhas ferroviárias, as rodovias e as pontes estreitas fazem com que seja praticamente impossível os caminhantes saírem da paisagem. O ‘flanêur’ é um consumidor, mas é aquele que acha cada vez mais difícil apreciar momentos artísticos e não mercadorias. Seu papel é resistir às mercadorias empurradas à ela e como alternativa assimilar as imagens, que serão um forte tema para um poema ou uma pintura ou uma construção – ou até mesmo uma boa conversa.

Fonte: https://lightgraphite.wordpress.com/art-and-design-in-context/flaneur-a-person-who-walks-the-city-in-order-to-experience-it/
Tradução: Adriana Duz

junho 21, 2016

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *