Sobre o “verbete” Cultura

Waiting for the Interurban, 2003 - seattle municipal archives

Waiting for the Interurban, 2003. Foto: Seattle municipal archives

Segundo o filósofo [Terry Eagleton], “‘cultura’ é considerada uma das duas ou três palavras mais complexas de nossa língua (…)”. Por essa razão, é um desafio refletir sobre os processos e práticas culturais no momento histórico atual em que a informação ganhou alcance e formatos inéditos. Ao mesmo tempo, a diversidade de temas do cenário cultural representa uma possibilidade de aproximação das reflexões teóricas e práticas da universidade e suas relações com atividades extensionistas e de cidadania, por meio de funções que lhe são fundamentais: a produção e divulgação de conhecimento atualizado em favor da sociedade.

Para que possamos compreender como a universidade, instituição pública de ensino e cultura e não deslocada das dinâmicas desse campo cultural, se relaciona com a esfera social precisamos buscar, inicialmente, quais são os significados de cultura direcionando esforços para a apropriação e entendimento da amplitude de tal conceitualização. A cultura, que possui diversas variações, é um conceito que está sempre em desenvolvimento, pois é influenciado por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.

Ao afirmar que [“A cultura é de todos”], o pensador e acadêmico Raymond Williams, em seu texto [A Cultura é Ordinária], formula a ideia de que a cultura permeia a formação de uma sociedade no sentido que “sua própria forma, propósitos e significados” se inscrevem nas instituições, nas artes e no conhecimento, tanto de forma coletiva quanto individual; coletiva no sentido de guiar a sociedade a direções comuns, e individual à medida que novos processos criativos recriam os mais ordinários significados de atuação dessa sociedade, por meio das artes e de novos aprendizados.

Complementarmente, para a definição de campo cultural, orientados pela reflexão da filósofa [Marilena Chauí] em “Democracia e Cultura”, o termo cultura, que antes significava cultivo, ressurgiu no século XVIII como sinônimo de civilização, por isso não podemos dissociá-la do social. Assim, podemos pensar cultura como uma “atividade social que institui em um campo símbolos e signos, valores, comportamentos e práticas” de uma sociedade, ou ainda, para além da arte, como “processos de criação e trabalho de obras culturais”, e o quanto a cultura está diretamente ligada à questão do ensino e da relação entre os processos educativos de pesquisa e extensão.

CAMPO x PROJETO

Para o sociólogo francês [Bourdieu] , o campo cultural é formado por campos de produção intelectual, científica e artística e, são os gostos, as formas de pensar, as formas de lógica, os traços estilísticos, a tonalidade de humor que colore as expressões de uma época, que contém as marcas do campo cultural. Atentos a esse campo cultural, muitos pesquisadores produzem conhecimentos que buscam relacionar o papel das instituições e a formação das várias identidades sociais, expressas em concepções de políticas públicas, linhas de planejamento, instrumentos de gestão e práticas culturais que, por meio de projetos de extensão, representam o elo entre pesquisadores e agentes culturais com a sociedade, como o Observatório Cidadania, Cultura e Cidade do Núcleo de Extensão UFSCar-Cidadania.

Dessa forma, podemos pensar que todos nós somos parte integrante do campo cultural, atuantes como instituição cultural e regidos direta ou indiretamente pela esfera pública. Por meio de um processo democrático e de constituição das políticas públicas, o que reafirma o papel de tais políticas como sendo igualmente produto da cultura, que a sociedade cria para si, gerando continuamente representações próprias de seu dinamismo e multiplicidade social.

Referências:

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia. In Coleção cultura o que é? Salvador: Secretaria de Cultura, Fundação Pedro Calmon, 2ª edi. 2009.

EAGLETON, Terry. A ideia de cultura; tradução Sandra Castello Branco. São Paulo: Editota Unesp, 2005.

WILLIAMS, Raymond. A cultura ordinária.

agosto 27, 2014

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