Algoritmos e o uso de dados pessoais como ferramenta de manipulação

Você pesquisa um determinado produto que está interessado em comprar e, horas depois, aparece em um anúncio no Facebook uma promoção dele. Muitos podem achar que é coincidência, mas, na verdade, é apenas a forma como o algoritmo do Facebook funciona: ele sempre busca te mostrar o que é mais relevante pra você naquele momento, analisando todos os seus comportamentos: que tipo de foto você curte, em qual produto você se interessa, qual o seu posicionamento político, etc. Mas, para entender melhor o que são algoritmos e porque você deve se preocupar, vamos do início.

Primeiro, o que é algoritmo? Um algoritmo é uma série de etapas, algo como um passo a passo, que indica ao computador como fazer uma determinada tarefa. No nosso cotidiano, estamos acostumados a entrar em diversos sites e fornecer os mais variados tipos de informações sobre nossas vidas, mesmo sem perceber. O Facebook, por exemplo, te pede muitos dados pessoais, como seu nome, sua foto e seus interesses, mas não precisamos nos limitar a ele: todo site, em menor ou maior escala, coleta dados sobre você, baseado em como você faz uso dele. Um site de filmes, como a Netflix por exemplo, sabe se você está mais inclinado a assistir filmes de romance, terror ou comédia, basta analisar qual estilo de filme você mais assiste. Assim, mesmo sem te pedir diretamente que forneça sua categoria favorita, o site consegue perceber que você é um amante de filmes de ação e te indicar “Velozes e Furiosos 8” ao invés de “Xuxa em o Mistério de Feiurinha”.

Recomendações de filmes pela Netflix baseados no que você assistiu

Agora que entendemos, de forma resumida, como algoritmos funcionam, é interessante tentar entender quais impactos negativos eles podem ter sobre a gente. De fato, nos exemplos citados acima, só vimos o lado bom dos algoritmos: você comprou seu produto na promoção, recebe apenas posts relevantes no seu feed do Facebook e perde menos tempo procurando filmes no catálogo. Mas pensando por outro lado, talvez você pudesse guardar seu dinheiro se não tivesse visto aquela promoção imperdível do produto que você não precisa. Ou você poderia ter visto posts no Facebook menos relevantes pra você, como um posicionamento político contrário, que pudesse te fazer refletir sobre as ideias em que acredita. Ou então, você pode ter deixado de descobrir um ótimo filme de comédia, porque o Netflix só te recomenda filmes de ação.

Fato é que, muitas vezes, os algoritmos contribuem para diminuir nossa liberdade. Ao selecionar e te apresentar apenas posts com a mesma inclinação política da sua, você pode pensar que o Facebook está te fazendo um favor em não te mostrar o lado que você discorda, mas na verdade ele te faz entrar em uma bolha. Parece que, de repente, todo mundo nas redes sociais passou a pensar igual você, o que te dá a ideia que seu pensamento é o correto e qualquer um que discorde dele é uma minoria que não deve ser levada em conta. Da próxima vez que você tentar debater com alguém do espectro político contrário, é provável que seus argumentos não sejam convincentes, afinal, você criou o costume de debater apenas com quem já concorda com suas ideias.

Quando levamos isso para o lado do consumo, a coisa fica pior. Os algoritmos entendem que precisam te mostrar aquele perfume que você se interessou o tempo inteiro, te bombardeando com promoções cada vez melhores dele. “Coincidentemente”, o sapato que você pesquisou aparece também. E, quando você se deu conta, já gastou muito mais do que deveria com produtos fúteis, mas que a internet te convenceu de que eram necessários, te mostrando como as pessoas ficaram felizes após a aquisição deles. E não pense que isso é uma teoria da conspiração ou uma invenção de quem quer assustar as pessoas, pois o próprio Mark Zuckerberg, fundador e proprietário do Facebook, teve que depor ao senado americano por conta do mau uso de dados (em especial por conta do vazamento de dados de 87 milhões de pessoas) e admitiu erros do Facebook.

Com base nos argumentos apresentados, fica clara a necessidade de sermos mais cuidadosos com o uso da internet, já que a forma com que nossos dados são usados podem nos prejudicar diretamente. Sendo assim, é importante deixar algumas dicas do que o usuário comum pode fazer para evitar ser vítima do uso mal-intencionado de algoritmos. Em primeiro lugar, não insira seus dados pessoais em sites que você não confia totalmente: se nem no Facebook, um dos sites mais acessados da atualidade, estamos 100% seguros quanto aos nossos dados, sites suspeitos trazem um nível de perigo absurdamente maior. Além disso, mesmo em sites mais confiáveis como Facebook e Twitter, o mínimo de informação pessoal (nome e foto, por exemplo) é suficiente para que possamos fazer bom uso deles, sem a necessidade de incluir onde moramos, estudamos, etc. Outra sugestão é fazer uso do modo anônimo do seu navegador (Google Chrome, por exemplo) que, apesar de não te deixar totalmente anônimo (seu provedor de internet ainda pode te rastrear), não armazena dados sobre os sites visitados. Assim, se você abrir uma notícia pelo modo anônimo e depois pela aba normal, o site não vai saber da sua visita anterior.

Screenshot da navegação anônima do Google Chrome

Apesar dessas dicas serem fundamentais para um uso da internet com menos preocupação, vale lembrar que nunca estamos totalmente seguros enquanto navegamos. John McAfee, criador do famoso antivírus McAfee, disse em uma entrevista que o único jeito de ter total segurança é jogando fora nosso smartphone e adquirindo um celular que ele chama de “dumbphone”, ou seja, que não pode acessar a internet, pois, por mais que sejamos cautelosos, sempre estamos sujeitos a sermos rastreados ou hackeados.

 

Fontes:

Marck Zuckerbeg depõe ao senado sobre uso de dados pelo Facebook

Como navegar na web sem deixar rastros

“Jogue fora agora o seu smartphone”, diz John McAfee

novembro 21, 2018

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