Fios Urbanos

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2017/08/epoca-negocios-sao-paulo-enterrara-52-km-de-fios-em-117-ruas-2-mil-postes-desaparecerao.html

Quando foi a última vez que você parou para observar e perceber a paisagem urbana que te cerca? Perceber os espaços, perceber as cores, as forma e aromas? Na maioria dos casos e localidades urbanas, tais percepções e sensações não são exatamente aquilo que de fato podemos classificar como confortáveis e agradáveis.

Vivemos em ambientes sóbrios, cinza-escuros e muitas vezes sujos. Ambientes barulhentos, irritadiços e muitas vezes frenéticos. Ambientes muitas vezes malcheirosos e intoxicantes, cercados por fumaças e fuligens das mais diversas fontes nos consumindo tanto externa quanto internamente. Ambientes poluídos visualmente. Ambientes marketizados, densos de informações com anúncios por todos os cantos e lados. Ambientes sem árvores, de fauna e flora negligenciadas e reduzidas ao esquecimento. As vezes até por esses mesmos motivos e situações – que nos trazem o sentimento de desconforto – deixamos de observar nossas cidades, suas características e peculiaridades.

No aspecto da poluição visual, um elemento que se faz tão presente em nosso dia-a-dia urbano é o sistema de distribuição elétrica aéreo. Um elemento tão comum e rotineiro, que acaba passando despercebido em nosso consciente, mas que altera completamente a paisagem da cidade. Nos acostumamos com ele, quase não tivemos experiência sem ele e suas fiações e sistemas são praticamente intrínsecos às nossas realidades e necessidades.

A fiação e distribuição elétrica surge num contexto de realizar o “transporte” da energia dos pontos onde foi gerada até os pontos onde é requerida. Os sistemas de distribuição de energia vanguardistas, instalados em cidades da Europa e dos Estados Unidos, foram utilizados fundamentalmente para suprir a necessidade do fornecimento da iluminação pública por volta da década de 80. Inicialmente, suas instalações eram dadas pela utilização de redes aéreas. Com o passar dos anos, tais fiações aéreas são e vão sendo substituídas por sistemas de distribuição elétrico subterrâneo, visto que tal alternativa apresenta uma série de vantagens – economia na manutenção, estética mais limpa, segurança contra quedas de fornecimento e menor interferência de árvores.

No brasil, entretanto, a situação nas maiorias das cidades é outra. Predominante, a fiação elétrica aérea é a mais utilizada nas cidades brasileiras muito pelo fato de ser mais barata no quesito de sua implementação – fontes sugerem que tais valores variem de 4 a 20 vezes mais barata que a subterrânea.

Porém, a longo prazo, o sistema subterrâneo se mostra mais vantajoso, não só pelo aspecto econômico referente a manutenção – mais econômica, mas também no aspecto estético, deixando as cidades mais leves, limpas e claras. Andamos, no Brasil, em passadas lentas com relação ao aterramento das fiações. Aqui, elas são responsáveis pela mudança da paisagem urbana, principalmente, de centros comercias, históricos e turísticos brasileiros. São Carlos, município do Estado de São Paulo, infelizmente é uma das cidades que se enquadra na situação da presença do sistema elétrico predominantemente aéreo em sua extensão urbana.

Agora, fica o questionamento: como seriam e como ficariam os cenários paisagísticos urbanos sem a fiação aérea para compor São Carlos? Neste exercício de reflexão e abstração, as imagens apresentadas a seguir foram tratadas e editadas digitalmente e de certa forma falam por si próprias, demonstrando outra visão da paisagem urbana que poderia ser obtida, caso as fiações expostas fossem aterradas em diferentes pontos das cidades.

1. Avenida São Carlos com Conde do Pinhal – a esquerda vemos árvore da praça de Catedral e a direita edifício revitalizado onde atualmente funciona a empresa Bus Fácil.

2. Av. Dr. Carlos Botelho – na altura do estabelecimento Imobiliária Valor.

3. Av. São Carlos com vista para a abóboda da Catedral.

4. Edifício de nome desconhecido na rua José Bonifácio próximo ao Supermecado Extra.

5. Av. São Carlos com vista para a Praça dos Pombos e Ed. Conde do Pinhal.

Talvez se voltássemos, ou até mesmo começássemos, a olhar para a cidade, independente do sentimento que elas nos causa, ideias digitais e reais surjam para moldar ou mudar, construir ou reconstruir nosso espaço coletivo de convivência. Afinal, com ou sem fios aterrados as cidades continuam nos impactando, nos moldando e nos construindo.

Texto e  Imagens por Caio A. Rabello Gobbo (Eng. Civil e Mestrando em Eng. Urbana pelo PPGEU-UFSCar).

Referências:

  • http://guiaconstruirereformar.com.br/artigo_388-cidades_investem_em_fia_o_el_trica_subterr_nea.htm
  • https://oglobo.globo.com/rio/cidade-tem-mais-de-90-das-ruas-com-cabos-aparentes-nos-postes-15535703
  • https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/fiacao-subterranea-vantagens-e-dificuldades_14328_10_0
  • https://engvagnerlandi.com/2011/04/10/fiacao-aerea-o-grande-desafio-torna-la-subterranea/
    http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9249:economia170114&catid=26:economia&Itemid=58
  • http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/geral/joinville/noticia/2016/06/fiacao-subterranea-de-energia-muda-paisagem-na-regiao-central-de-joinville-5822689.html

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