Produção de Documentário: “Brasília – contradições de uma cidade nova”

No encontro do dia 16 de outubro, recebemos o Prof. Dr. Arthur Autran Franco de Sá Neto, do Programa de Pós-graduação em Imagem e Som, da UFSCar. Nesta aula, na ACIEPE, “Os diferentes olhares para a cidadania, cultura e cidade intermediados pela web: produção colaborativa de conteúdo multimídia visando engajamento e participação em um observatório”, o Professor nos apresentou o documentário “Brasília- contradições de uma cidade nova” (1967), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Além disso, nos deu dicas sobre a produção de documentários.

“Brasília- contradições de uma cidade nova” (1967)

O documentário foi produzido pouco depois dos primeiros anos de Brasília, é importante ressaltar, como em todos os aspectos da vida humana, o período em que fora produzido, em plena Ditadura Militar, o que, influenciou não apenas em sua produção, mas, também, no que ser documentado ou não.

Brasília era a marca de renovo, de esperança, não somente por ser a nova Capital do Brasil, mas de esperança ao povo, aos migrantes, como pessoas do Norte e Nordeste do país. O documentário apresenta, em seu início, a estrutura de Brasília: os eixos que a formam, as construções dos prédios, o comércio, mostra a ideia de se criar uma cidade planejada e com muitas áreas verdes, fala sobre os cemitérios, sobre o lago artificial e nos apresenta o Palácio do Planalto.

Outro aspecto que marca a ideia de construção de Brasília era, concomitantemente à esperança, de se criar uma cidade sem segregação, em suas construções, como moradias padronizadas e acesso às mesmas áreas de lazer, sem distinção social. Entretanto, o documentário nos mostra exatamente a quebra desta expectativa.

A maioria de seus trabalhadores braçais era composta por nordestinos e nortistas, pessoas que fugiam da seca e da falta de emprego em suas terras natais. Ao chegarem em Brasília recebiam um salário superior ao que recebiam em seus estados e demais, como São Paulo e Rio de Janeiro, porém, a proposta antissegregacionista não foi alcançada. As cidades, conhecidas como cidades satélites (ou dormitórias) serviam de moradia para esses trabalhadores, enquanto que, em Brasília, somente pessoas do alto escalão da sociedade conseguiam se manter e morar. Ao passo que Brasília crescia, com a crise na construção civil, muitos ficaram desempregados; estes, optaram, ainda assim, permanecer em Brasília.

Outro aspecto importante advindo da proposta de criação de Brasília, era a Universidade de Brasília, criada em 1962. Assim como Brasília, a UNB ganhou o sonho de se tornar a universidade modelo pra às demais. Contudo, devido aos problemas sociais e econômicos, este plano não seguiu como esperado.

Abaixo o documentário.

A produção de um Documentário: dicas

O Professor Arthur fez algumas ponderações acerca do documentário sobre a construção de Brasília. Sobre a construção de Brasília, afirmou haver diversos materiais, documentários e filmagens que poderiam ser aproveitadas para criação de outros documentários acerca do Distrito.

Além disso, nos chamou atenção às técnicas e formas de gravação: no documentário é possível observarmos que, quando são feitas as entrevistas (com diferentes membros, dos diferentes extratos sociais de Brasília), se utiliza a técnica de enquadramento close, em outros momentos se vale de outros enquadramentos. Ainda na filmagem, podemos perceber que se valem de filmagem direta ao documentar a vida das pessoas, afinal, as pessoas representam o seu próprio dia a dia. À medida que a filmagem dos trabalhadores trazia, obviamente, a filmagem das pessoas, a filmagem dos monumentos era realizada sem pessoas. Podemos perceber que grande parte da filmagem foi feita em movimento, dentro de carros, porém, tal estratégia não impediu que a filmagem enquadrasse exatamente e com um molde amplo os ambientes.

Sobre a locução dos documentários, a exemplo, o que documenta a história de brasília, traz Ferreira Gullar, com uma voz mais bem marcada e grave, ao passo que, nos dias atuais, a maior parte dos documentários são narrados por vozes menos graves, mais dinâmicas. A principal importância do locutor em um documentário, é a de realizar a amarração do enredo, ou seja, do que é filmado e do que se passa, o conteúdo, a descrição do que é documentado.

Outra estratégia a se pensar é que no documentário sobre Brasília, a música produz significação: no começo, o documentário traz músicas mais calmas, de modo a produzir o significado do plano de construção de Brasília; à medida que a filmagem acontece, podemos perceber que as músicas, em relação à filmagem, produz um tom de ironia, ao retratar, por exemplo, a desigualdade de Brasília e, mais ao final, traz uma música de Villa-Lobos, que retrata a grandiosidade das pessoas, das construções e de Brasília.

Ao final do encontro, o Professor, através de questionamentos, discutiu acerca da importância dos documentários na atualidade, a dificuldade de se retratar a verdade, diante das fakenews. Apontou que o documentário é exatamente a tipologia que busca retratar a verdade, a realidade, apesar de ser apenas uma representação. E, como toda representação, é feita sob um ponto de vista, sob um olhar do mundo, daquele que documenta. A ética dos documentário se pauta no dizer e mostrar o que há, representar o que há. Para essa discussão, falou, a título de exemplo, o documentário “O triunfo da vontade”, dirigido por Leni Riefenstahl, produzido em 1935, na Alemanha, que retrata, de modo positivo o fascismo na Alemanha, de Hitler, de modo a exemplificar que, mesmo retratando um tirano, que representa um momento conturbado da história da Alemanha e do mundo, este documentário o retrata diferente, sob a visão de que foi algo positivo. Indicou, também, o documentário “Sob a névoa da guerra”, dirigido por Errol Morris, produzido em 2004.

Ainda, sugeriu para as produções dos participantes da ACIEPE:

  1. Ver outros filmes e outros documentários, de modo a buscar observar, a partir do que foi relatado, os aspectos que corroboram para a produção do sentido desejado a ser passado com o documentário;
  2. Indicou a leitura de manuais, como “Espelho partido”, de Silvio Da-Rin e “Introdução do Documentário”, de Bill Nichols e
  3. Ressaltou que nos atentemos às questões judiciais envolvidas na filmagem, no que diz respeito à filmagem de menores de idade e de outras pessoas, que aparecerão. Além disso, é preciso que busquemos saber se é preciso autorização de órgãos, como a Prefeitura, por exemplo, para filmar dentro de espaços públicos, caso seja este o cenário escolhido.

Agradecemos a participação e a grande aula do Professor Arthur, que em muito nos ajudou.

Por Robert Moura.

 

outubro 22, 2018

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